Série Conquistas
Nesta série iremos falar sobre a conquista de algumas das mais emblemáticas montanhas paranaenses. A série tentará seguir uma ordem cronológica, explicando como audazes montanhistas enfrentaram o poder da natureza para escrever seus nomes na história.
O Conjunto Marumbi é um complexo de 7 montanhas principais, agrupadas e ligadas por frágeis e estreitas cristas e separadas em seu entorno por gigantescas e alcantiladas paredes de granito. Desfiladeiros vertiginosos que mexem com o psicológico dos montanhistas que frequentam suas paragens. Há o Rochedinho, já separado do grupo principal e o Facãozinho a meio caminho, somando o 8º e 9º cumes do conjunto. Então, houve a famosa invasão alemã – que mudou o rumo das escaladas brasileiras.
Até 1938, eram 4 dias de ascensões pela rota clássica para quem queria ir até o Pico do Marumbi através dos cumes do Rochedinho, Facãozinho e Boa Vista. Mas isso estava prestes a mudar.
Sobrenomes difíceis de pronunciar como Schiebler, Schmidlin, Stamm, Hatschbach, Stoltz, Henkel, Claassen, Müller, Klein, Seifert, Hoffmann, Gröeger e Buecken (só para citar alguns) eram comuns nos ranchos que restaram da antiga Pedreira Moscalewski (onde hoje é a Sede do Parque e a Vila no Marumbi). Pereiras, Ribeiros, Souzas e Silvas eram verdadeiras raridades por lá.
Traziam na bagagem a tradição da Escola Européia Alpina e começaram a realizar tentativas mais audazes para a conquistas dos cumes no entorno do Pico Marumbi.
Não havia outro jeito. Pela ingrimidade das paredes alcantiladas, as conquistas teriam que ser, literalmente, na unha.
O inverno, conhecida temporada das montanhas paranaenses, viu quatro personagens realizarem diversas investidas, o que era de certa forma trabalhoso e enfadonho, pois tinham que pedir autorização para cruzar a pedreira no escritório da empresa na capital, apresentando a permissão todas as vezes que necessitavam passar pela propriedade na Serra do Mar – foram cerca de 15 vezes no total,– entre os anos de 1937 e 1938;
Esses audazes montanhistas não pouparam esforços para conquistar seu objetivo: cansaço, arranhões, tombos, idas e vindas por entre grotões e desfiladeiros inimagináveis através de precipícios não foram capazes de abalá-los.
Então, reconhecendo o mérito destes desbravadores; majestoso e sem soberba, o Abrolhos permite o ato indelével de José Peón, Ana Henkel, Armin Henkel e Alfonso Hatsbach (Titio). Eles alcançaram o ápice dos 1200 metros da magnífica agulha. A data era 09 de Setembro de 1938.
Jornais da época deixaram as notícias da II Grande Guerra em segundo plano para noticiar o incrível feito destes destemidos montanhistas. Eles eram a notícia da capa dos periódicos tamanha era a façanha que tinham realizado.
O próximo, para onde os olhares se voltaram, era a Esfinge: Rudolf Stamm e Henrique Zenkert eram os donos do plano. Tentaram inúmeras vezes, tendo alguns reveses hilários com, por exemplo, algumas vezes que tiveram que chegar ao Marumbi no bagageiro do trem devido à superlotação. Fizeram investidas pelo Vale do Rio Cari, entrando no Vale dos Cubos, mas grandes paredões barraram o avanço da marcha.
Em uma incursão ao Abrolhos, vislumbraram um caminho por onde poderiam subir. Um final de semana mais e, já à altura do Desfiladeiro das Lágrimas, mais um paredão os impediu a passagem.
No dia 04 de Maio de 1940, Henrique Zenkert parte sozinho à serra. No dia seguinte, sabendo dos planos de Henrique, Rudolf Stamm sobe o Abrolhos para acompanhar o desenvolvimento do companheiro e, possivelmente, dar-lhe orientações à distância com outra perspectiva sobre o caminho a seguir; prática bem comum à época.
Um momento mais e surge um urro em meio à cerração. Henrique Zenkert tinha tentado achar a melhor vereda durante todo o dia anterior. No dia seguinte tentou mais duas vezes em um paredão e, caindo de grande altura, acabou deitado no chão. Ao olhar para o lado para se levantar acabou olhando e achando uma passagem favorável que é usada até os dias atuais. Seguiu por ali e pisou onde nunca antes alguém havia pisado. Portanto, no dia 05 de Maio de 1940 mais um colosso, sempre a mirar os céus, tinha sido superado.
Uma semana depois da conquista da Esfinge, dia 11 de Maio de 1940; empolgados com as conquistas realizadas, Alfred Myssing, Carlos Schaffer e Adalberto Thomsen sobem pela passagem Noroeste, passam reto no desvio do Abrolhos e entram pelo Vale dos Perdidos. Ao chegarem ao final desse vale, entram a direita até chegarem ao colo final do Desfiladeiro da Catedral: um hiato gigante que separa o Abrolhos e a Torre dos Sinos; e passam a noite ali, sonhando em chegar ao topo daquelas paredes que lhe servem de encosto na noite fria serrana.Na manhã seguinte, 12 de Maio, encontram uma vertente com muito mato ruim e vegetação forrada de caraguatás e espinhos. Encontram dificuldades de avanço, mas com esforços hercúleos passam se espremendo por entre rochas numa subida quase vertical. Pedras soltas devem ter rolado e acelerado diversas vezes o coração destes destemidos montanhistas. Passo a passo, eram arranhados pela vegetação mas não deixariam que seus brios também fossem arranhados. Rudolf Stamm, no alto do Abrolhos, estava à espera de sinais positivos da conquista de seus companheiros. Impaciente e temeroso, soltou um grito, mas um silencio descomunal permaneceu pairando sobre as montanhas. Minutos após, ouve uma resposta triplicada de seu chamado e visualiza a silhueta de seus três amigos se abraçando em altura acima da sua. Suados, após cerca de 45 minutos, se encontravam no ápice das colossais paredes que já haviam tentado galgar em 28 de Abril. À distância, não muito longe mas com um precipício de mais de 600 metros de altura entre si, combinam de se encontrarem no Desvio do Abrolhos para contarem os primeiros detalhes de sua grande aventura. As vertiginosas e colossais paredes da Torre foram conquistadas.
Após algumas pequenas retificações no traçado – que foi usado até 1945 – uma nova trilha foi aberta por Waldemar Buecker (Gavião) galgando por uma crista entre o Gigante e a Ponta do Tigre e a batizaram de Desvio da Torre. Neste local, apenas uma estreita ponte de pedra faz a ligação entre a crista da Pontas do Tigre e as paredes da Torre dos Sinos – separando as montanhas estão os alcantilados Desfiladeiro da Catedral e o Desfiladeiro dos Sinos.
Muito Bom!! Ótimo artigo.