Nossa aventura pelos Campos do Quiriri começou cedo. Saímos de Curitiba em 4 veículos 4×4, que não é o transporte mais confortável desse mundo, mas era necessário para vencer o trajeto que queríamos fazer. Depois de muito sacolejo finalmente começamos a subir a serra que nos levaria ao início da caminhada de 15 km. A medida que subíamos a serra, uma linda paisagem ia se descortinando aos nossos olhos e, como bem disse a Anna Caruso “a vista fez valer a pena cada batida de ombro e, às vezes, de cabeça, na porta do carro.”
O vento forte (diria que pelo menos uns 65 km/h e com rajadas fortes de derrubar pessoas) se fez presente todo o tempo. Ele, o vento, era o prenúncio da grande frente fria que estava entrando. O dia estava limpo, sem nuvens: lindo mesmo, com visual a perder de vista! Caminhamos horas pelos campos de altitude que ficam logo em cima da divisa dos Estados de Santa Catarina e Paraná, lembrando que campo é a vegetação: Isso não quer dizer que que a caminhada foi plano.
No final da caminhada após descermos mais uma ladeira e cruzarmos o último riacho, nos deparamos com uma cerca de arame farpado. Ali foi um ponto de descanso até todos passarem um por um, com cuidado pela cerca para não prender nem a roupa, nem a mochila. O pessoal ficou aguardando toda a equipe se juntar novamente bem ao lado de um brejo.
Foi durante essa espera que a Gianna e a Rita avistaram a cabeça de um bicho… Seria uma vaca? Vi a Anna Caruso se aproximando devagarinho e ela constatou: Havia realmente um animal atolado até a cabeça naquele brejo e não conseguia sair.
Até então eu estava na cerca de arame ajudando as pessoas a passarem com segurança, mas pensei comigo: Ali ele animal não vai ficar! Não demorou muito para eu chegar perto do bichinho e começar a estudar uma maneira de ajudá-lo a sair dessa enrascada.
Na verdade era uma vontade de todos ali. Começaram os palpites, pois uma coisa era certa, se não ajudassemos o animal a sair do atoleiro, ele iria morrer ali. Tudo isso aconteceu muito rápido.
“- Ana, vc tem uma corda na sua mochila? “
“- No carro 4×4 temos cordas, podemos puxá-lo!”
“- Eu tenho uma echarpe aqui, dá para tentar puxar com ela. “
Ainda bem que tínhamos um veterinário entre nós, o Dalton! Segundo ele teríamos que puxar o bicho pelo rabo e não pela cabeça.
“- Mas não vai quebrar o rabo dele?”, perguntaram.
As pessoas ainda estavam pasmas em ver o sofrimento do bicho atolado, quando o Dalton e o Eduardo começaram o trabalho literalmente braçal de levantar o bicho pelo rabo. Tentei ajudar mas na posição que eu estava levei uma chifrada (de leve). O boizinho estava incomodado, virando com a cabeça pra trás e não se impulsionava para frente como deveria fazer para tentar sair.
Foi aí que me afastei, tirei a única foto que registrou todo esse momento. O animal tinha que olhar para frente, vir para frente!
“- Desse jeito ele não está indo pra frente. Não vai sair!”
Foi aí que me transportei para a minha infância, quando eu tinha tempo de assistir aos filmes de sessão da tarde. Num desses filmes lembrei-me de cena onde um toureiro agitava sua capa vermelha deixando o touro bravo e ele fazia suas investidas. Olhei pra mim mesma e vi que meu anoraque era salmão, quase vermelho. Na mesma hora tirei-o e comecei a agitá-lo na frente do boi. Estava atingindo meu objetivo. Além de chamar a atenção dele, ele não gostou. Passou a se agitar mais. Enquanto isso os meninos continuavam puxando o bicho pelo rabo.
Percebendo a reação bovina, o Eduardo falou: Vem mais pra perto dele Ana! E foi o que fiz ainda agitando o casaco, mas tinha a noção que se o bicho saísse ele poderia estar meio desnorteado e atacar. Por isso pedi para as meninas que estavam por perto se afastarem.
“- Ana ele não é um… touro! “
Não deu tempo da Gianna terminar a frase. O bicho ficou tão bravo e agitado, que enfim saiu do buraco onde deveria estar há mais de 2 dias. Mas, como era de se esperar, o projeto de touro não saiu distribuindo agradecimentos. Ele saiu correndo e veio mesmo para cima de mim como um touro faz numa tourada.
Pernas pra que te quero!!! Ainda bem ele não estava na sua melhor forma, mas foi o suficiente para dar um grande susto. Depois de alguns passos eu caí para um lado e ele cambaleou para o outro.
Olé!
Senti-me a própria toureira! Havíamos conseguido desatolar o garrote! Foi um belo e rápido trabalho em equipe!!!
Mas o danado do projeto de touro não ficou nem 5 segundos parado, porque há poucos metros dali havia outra pessoa com uma jaqueta vermelha… Imagina para onde o projeto de animal se dirigiu? Sim, correu atrás da Anna Caruso, que por muito pouco ela não foi arremessada, desta vez não pelo vento, como aconteceu durante a caminhada, mas por um boi muito assustado.
Quero esclarecer que em geral não somos atacados por esses animais, mas desta vez foi um caso onde o instinto de sobrevivência e de auto proteção do animal falou mais alto. Dá para entender, não é?!
Quando o boi se afastou e tivemos a certeza de que não atacaria mais ninguém, foi que olhei bem para a plateia: Todos estavam de olhos arregalados! Tudo foi tão rápido e intenso que não deu tempo de ninguém fotografar nem em filmar, só torcer para que o final fosse feliz!
A adrenalina que passou a correr no nosso sangue foi o combustível para vencermos a última ladeira, onde pudemos ver o boi ao longe parado nos olhando.
Foi uma linda caminhada pelos Campo do Quiriri, mas com certeza chegar ao final da trilha com uma sensação fantástica de ter salvado uma vida a tornou mais emocionante!
Huau! que aventura! Adorei essa história… mas espero que da próxima vez… quando eu me candidatar a ir ao Quiriri o boizinho esteja feliz em outras pastagens! kkkkk
Super legal!!!! Fez render boas gargalhadas de minha parte! Parabéns ao trabalho em equipe e para a toureira. Montanhismo realmente é a arte do improviso.
Amei!
Muito bom. Quem disse que a AVENTURA com a ANA WANKE, NÃO É COMPLETA.
Fantástica essa história. Amei e claro, o espírito de fazer o bem, não importa a quem, sempre presenta na condução da Ana nas caminhadas.
Parabéns pela atitude e por obrigada por compartilhar mais essa linda história!!!