Deixar tudo que conhece para trás e se expor a outra cultura, a outra língua. Isso é viajar! Isso nos faz ver o mundo com outros olhos e abrir os horizontes! Convido você a viajar comigo para o Nepal, um país exótico, repleto de aromas, sabores e cores. Impossível não se encantar pela amorosidade do seu povo, pela bagunça das suas ruas ou pelo seu harmônico sincretismo religioso.
Isso mesmo, não dá para falar do Nepal sem entrar na sua religiosidade. Durante séculos, diferentes influências foram moldando a cultura nepalesa e houve esse grande sincretismo religioso do hinduísmo com o budismo.
Hinduísmo
O hinduísmo, seguido por cerca de 80% da população nepalesa, é uma das mais antigas tradições religiosas que se encontra registro histórico. Para mim, uma das coisas mais interessantes desta religião é que seus deuses são humanizados: Eles têm humor, têm desejos, comem e dormem. Aliás, um dos motivos de ter vários sinos nos templos hindus é para acordar os deuses e ter certeza que ele vai ouvir as preces.
As práticas e rituais hindus variam de região, mas a maior parte dos seguidores realiza ao menos um ritual diariamente, como o puja, que é a oferenda aos deuses. Essas oferendas variam com a ocasião e o pedido, pode ser feito em casa ou nos templos. Caminhando pelas ruas de Kathmandu e Bathktapur podemos ver vários pujas, com oferendas de comidas aos deuses.
Falando em deuses hindus, eles são na verdade representações corporais da divindade suprema Brâman, como Deus para os católicos. Aliás, veja que existe uma grande diferença entre Brâman e Brahma! Brahma é o deus da criação do universo, que, juntamente com Viṣhṇu, o deus da preservação, e Śhiva, o deus da destruição e regeneração, forma a trindade clássica hindu, Trimurti, como a Santíssima Trindade cristã.
Dá vontade de falar de todos os deuses hindus, um por um, mas vou destacar um deles: Shiva. Pude sentir a devoção e crença nele pelos nepaleses quando presenciei o terremoto no Nepal em abril de 2015. Como Shiva tem o poder da destruição, para os hindus nepaleses, aquele terremoto foi obra dele, num momento de mau humor. Em Pohkara vi velas acesas em torno da Árvore da Vida, sagrada para os hindus, com pedidos para acalmar Shiva. É lindo ver e sentir o entendimento dos hindus que este deus não destrói apenas por destruir, ele destrói para construir o novo, para regenerar.
A maioria dos hindus é cremada, pois eles acreditam que o fogo funerário liberta a alma do corpo e ela está livre para seguir seu caminho na roda das encarnações. Em Kathmandu, as cerimônias de cremação são realizadas às margens do sagrado rio Bagmati, no Templo de Pashupatinath, dedicado a Shiva.
Budismo
Ainda falado sobre os templos, é em Kathmandu que se localiza Boudhanath, uma das maiores estupas semi-esféricas do mundo e o templo budista tibetano mais sagrado do mundo fora do Tibete. Aliás com a invasão do Tibet pela China, muitos budistas fugiram para o Nepal, se fixando principalmente nas montanhas.
Não só por isso o budismo é muito difundido no Nepal: Você sabia que Buda (Sidarta Gauthama) nasceu no Nepal, numa cidade chamada Lumbini por volta do ano 566 a.C. e cresceu em Capilvasto, também no Nepal?
A história da transformação de Sidarta em Buda é linda e acho que vale a pena abrir um parênteses aqui para você conhecer um pouco mais dessa história. Conta a lenda que logo após o nascimento de Sidarta, um astrólogo visitou o pai, o rei Suddhodana, e profetizou que Sidarta iria se tornar um grande rei porém se visse a vida fora das paredes do palácio ele renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo.
É claro que Sidarta foi cercado de conforto e paz, mas ele vivia totalmente protegido de contato com o exterior, por ordem de seu pai. Uma tarde, fugindo dos portões do palácio, o jovem Gautama viu 3 coisas que iriam mudar sua vida:
- um ancião que, encurvado, não conseguia andar e se apoiava num bastão,
- um homem que agonizava em terríveis dores devido a uma doença interna, e
- um cadáver envolvido num sudário de linho branco.
Essas 3 visões o puseram em contato com a velhice, a doença e a morte, conhecidas como “as três marcas da impermanência”, e o deixaram profundamente abalado. Voltando para o palácio, ele teve a quarta visão: um Sadhu, um eremita errante cujo rosto irradiava paz profunda e dignidade, que impressionou Gautama a tal ponto que ele decidiu renunciar à sua vida de comodidade e dedicar o resto de sua vida à busca da verdade.
No início ele seguiu o ascetismo, jejuando até que se convenceu da inutilidade destas práticas, e continuou sua busca. Durante 7 anos esteve estudando com os filósofos da região e continuava insatisfeito.
Por fim, em uma de suas viagens, chegou a Bodh Gaya, onde encontrou uma enorme figueira e tomou a resolução de não sair de lá até ter alcançado a iluminação. Durante 49 dias ele permaneceu sentado à sombra da figueira, em profunda meditação, transcendendo todos os estágios da mente até atingir a Iluminação, um estado chamado nirvana. Desde então foi chamado de Buda (o que despertou). Seus ensinamentos nascidos dessas experiência são conhecidos como o “Caminho do Meio”, ou simplesmente o dharma (a lei).
Do momento em que atingiu o nirvana, aos 35 anos de idade, até sua morte, aos 80, Buda viajou ininterruptamente por toda a Índia, ensinando e fundando comunidades monásticas sem distinção de raça, sexo ou casta social.
Que tal ver de perto alguns desses templos que citei? Estamos a caminho do Nepal em abril de 2018. Conheça os detalhes desse roteiro em nosso site.