A Escarpa Devoniana é responsável por essa beleza

Para quem está em Curitiba e vai para o interior, inevitavelmente se depara com um lindo paredão de arenito em São Luiz do Purunã. Esse imenso degrau, que faz a passagem do primeiro para o segundo planalto paranaense, é a ponta leste da Escarpa Devoniana. Formado no período Devoniano que está compreendido aproximadamente entre 416 milhões e 359 milhões de anos atrás, foi neste período que se formaram muitos dos depósitos de petróleo e gás natural que temos hoje.

Muito mais que um degrau, a Escarpa Devoniana está repleta de cânions e cachoeiras, abriga os Campos Gerais do Paraná e várias florestas de araucárias, biomas ameaçados de extinção.

Pontos turísticos naturais na Escarpa Devoniana são:

Cachoeira da Mariquinha: Fica a aproximadamente 30km do centro de Ponta Grossa. A trilha de acesso é ladeada por formações de arenito e capões de mata nativa. Aos pés da sua cascata de 30 metros de altura, forma-se um balneário de rara beleza. Um espaço para aqueles que buscam um contato harmonioso com a natureza, sendo um local ideal para acampamentos e caminhadas nas trilhas pela mata nativa da região.

Buraco do Padre: O nome do local está ligado à história dos Padres Jesuítas que lá meditavam. O Buraco do Padre é uma furna que apresenta em seu interior uma imponente cascata de 30m, formada pelo Rio Quebra Perna. Trata-se de uma espécie de anfiteatro subterrâneo. Para acesso à furna é necessário percorrer uma trilha de 1km a pé com presença de obstáculos naturais. O acesso é fácil e a sua trilha principal foi recentemente revitalizada, permitindo que cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção cheguem à furna.

Canion Guartelá: Situado no planalto dos Campos Gerais, entre os municípios de Castro e Tibagi no Paraná, é considerado um dos maiores cânions do mundo em extensão, o 6° mais longo do mundo e o mais longo do Brasil. É uma garganta retilínea com cerca de 30 km de extensão e desnível máximo de 450 metros que foi escavado pelo Rio Iapó. Em 1992 foi criado o Parque Estadual do Guartelá com o objetivo de assegurar a preservação do mesmo. A paisagem vista do alto do Vale do Rio Iapó, principalmente ao amanhecer, é surpreendente. A bruma que cobre os campos vai se escoando e, aos poucos, surgem copas de araucárias centenárias e formações rochosas muito interessantes.

Vila Velha: O Parque Estadual de Vila Velha foi criado em 1953 para preservar as formações de arenito e os campos nativos do Paraná. Considerado o principal atrativo Natural de Ponta Grossa, foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Estadual em 1966 com seus mais de três mil hectares. Entre a fauna presente no parque, já foram encontradas muitas espécies endêmicas e ameaçada de extinção, como o lobo-guará, bugio-ruivo, tamanduá-bandeira, jaguatirica e aves como a águia-cinzenta, papagaio-de-peito-roxo, galito, caminheiro-grande e noivinha-de-rabo-preto. Para minimizar o impacto humano sobre este ambiente o Parque Estadual de Vila Velha, que durante os anos de 2002 e 2004 esteve em processo de revitalização, teve algumas de suas áreas recuperadas e todos os passeios são feitos por trilhas e acompanhados de guias do próprio parque.

Furnas: As furnas, localizadas a 3 km dos Arenitos de Vila Velha, são crateras circulares de grande diâmetro que aparecem isoladas na vastidão dos campos. Também são conhecidas como Caldeirões do Inferno. Em número de três, as paredes verticais atingem uma profundidade de mais de 100 metros e apresentam um volume de água que atinge, aproximadamente, a metade desta profundidade. Em uma das furnas foi construído um elevador panorâmico que vence um desnível de 54 metros. O elevador dá acesso ao interior da furna, sob uma plataforma flutuante, localizada a três metros do nível da água. Uma escada dá acesso à plataforma que permite uma visão rara da formação rochosa.

Vale lembrar que o ciclo econômico do Tropeirismo se desenvolveu ao longo dos Campos Gerais promovendo a criação de cidades e uma identidade cultural muito particular entre os séculos XVIII e XIX. A cidade que mais preserva essas características culturais, principalmente através de seus museus, é a Lapa. Também fazem parte desta rota tropeira, cidades como Ponta Grossa, Castro, Jaguaiaíva e até Curitiba.

Em 1992, com o intuito de proteger esse patrimônio natural e garantindo o uso sustentável da região, foi criada a Área de Proteção Ambiental – APA da Escarpa Devoniana. Entenda-se por uso sustentável, o uso orientado dos recursos naturais, assegurando a preservação para que futuras gerações possam usufruir da região, porém sem desapropriações.

Faz parte do uso sustentável de uma APA um documento de gestão e orientação chamado Plano de Manejo, que resulta de diagnósticos ambientais, socioeconômicos, históricos e culturais, com a participação de toda a sociedade envolvida através de audiências públicas.

Fotos: Arquivo Gazeta do Povo e Prefeitura de Ponta Grossa.

Ana Wanke

Ana Wanke é curitibana, engenheira e trabalhou por 20 anos no setor elétrico com projeto de Usinas Hidrelétricas. Em 2012 resolveu realizar um projeto que já vinha elaborando há muito tempo: dar oportunidade a mais pessoas de conectar-se com a natureza, de maneira mais intensa e em roteiros personalizados. Especializou-se no Caminho de Santiago: percorreu pessoalmente El Camino uma dezena de vezes, tem vários cursos da Universidade de Compostela sobre o caminho e a cultura Galega, e já prestou inúmeras consultorias para clientes que peregrinaram por este trajeto transformador. Trocou a carreira de engenheira pela carreira de guia e fundou a empresa Ana Wanke Turismo e Aventura.