Logo depois da fantástica trilha para subir ao Campo Base do Annapurna seguimos viagem a Pokhara e Sauraha, quando nos encontramos com paisagens bucólicas e planícies de grande contraste com as altas montanhas das quais acabávamos de sair.
Chegou o esperado momento de fazermos nossa expedição sobre elefantes para observar animais selvagens em seu habitat natural, a qual por situações incríveis durante o percurso teve um toque especial de aprendizagem e reconhecimento do que é a amizade.
Foram momentos de desfrute e tensão ao mesmo tempo. Animados e ao mesmo tempo apreensivos emocionalmente pela ideia de subir nas costas dos “bichinhos”. Formamos quatro grupos de quatro pessoas sentadas numa cestinha sobre um elefante e um condutor do animal. Fomos tranquilizados que aquilo seria um peso compatível com a capacidade do animal e que o mesmo não estaria sendo maltratado.
Curiosidade: O feminino da palavra elefante pode ser elefanta ou aliá. Muitas pessoas afirmam que o feminino de elefante é elefoa. Esta afirmação está errada. As palavras certas são elefanta e aliá.
Logo na saída a nossa elefanta estava agitada. Pensando alto, comentei com meus colegas: “Gosto desta elefanta porque tem caráter, não obedece assim tão facilmente”.
Ao logo do percurso nossa querida elefanta prosseguiu sendo rebelde, mudando de direção por conta própria, não obedecendo ao seu condutor. Seguíamos inebriados com as belezas da natureza selvagem. Fomos surpreendidos com dois rinocerontes. Foi fabuloso ver aqueles animais pré-históricos, “vestindo” uma carapaça. Em seguida veio outra surpresa, avistamos alguns “bambis”, cervos com pintas brancas nas costas: Lindos, queridos, não negam o nome que recebem (foneticamente) da língua inglesa.
Chegamos ao rio, hora do recreio para os elefantes. Eles tomaram água, se divertiram um pouco. Quando voltamos à selva fechada, nossa elefanta seguia intranquila, arrancando tufos de capim, quebrando galhos de árvores e seguindo por caminhos distintos dos selecionados pelo guia. Veio então o primeiro susto, quando a nossa elefanta adentrou à floresta rápida e rebeldemente, seguida por outra elefanta! Bruscamente as duas pararam uma ao lado da outra, numa situação que parecia uma briga. Não saíamos do lugar! Uma elefanta prosseguia e a outra tentava passar na frente e vice-versa. Um passo à frente e dois ou três para trás. Aí sentimos que algo de realmente estranho estava acontecendo.
Permanecemos calados, aguardando ansiosamente pela calmaria das duas, que seguiam rugindo e empacadas. Nem nós nem o condutor entendia porque elas estavam se comportando daquela maneira.
Elas não obedeciam aos comando, foi então que os condutores tiveram que descer das elefantas para tentar controlar a agitação, pois não saímos do lugar a um bom tempo. Apenas aquelas elefantas rodopiando e nós ali entre as árvores tentando nos proteger das batidas contra os galhos.
Nós todos, quatro clientes em uma elefanta, quatro clientes em outra elefanta, nos olhávamos e, apesar da tensão da situação, todos mantivemos nossas emoções controladas. Não houve nenhum “piti” e até então nenhum “putaqueupariu” (nossa expressão de guerra), somente palavras de calma até que começamos a trabalhar nossas energias boas às elefantas!
Foi quando a Rita Facchini, minha amiga de longa data e companheira de aventura, me pediu para eu passar energias para controlar a elefanta. Foi um momento mágico, quando coloquei ingenuamente minhas mãos diretamente na pele de nossa querida e estressada carregadora. Tão gigante, tão vulnerável, mas acredito que somos capazes de nos conectar com todos os serem e passar boas vibrações. Ali não era hora de racionalizar nem questionar, simplesmente me concentrei e passei todo sentimento de carinho, calma, conforto e amor que poderia sair de mim naquele momento. E numa sintonia fina, a outra elefanta recebeu as mesmas boas vibrações do grupo que estava com ela.
O mais importante e emocionalmente muito forte, foi que todos mantiveram o silêncio e a calma como primeira atitude, certamente colaborou muito para o estado emocional dos “bichinhos”.
Dizem que os elefantes são muito inteligentes, e todos nós do grupo Ana Wanke podemos comprovar isso. Não só são inteligentes, como tem um grande vínculo de amizade e proteção entre eles.
Desvendando o mistério:
O que realmente estava acontecendo é que os engates do suporte onde estávamos sentados sobre a elefanta estava mal encaixado e estava machucando o bichinho. Que por sua vez não estava conseguindo se comunicar com o condutor, apenas tentava se desvencilhar do que a incomodava. A outra elefanta apenas estava tentando confortar a sua amiga e dar sinais a nós humanos – ditos bichinhos não selvagens – que algo estava machucando sua amiguinha.
Ali naquele conflito fomos descobrindo muitos detalhes sobre os elefantes, naqueles minutos de plena tensão. Soubemos então pelos condutores que as duas elefantas eram as melhores amigas!
Depois de controlada a situação, voltamos ao encontro dos outros elefantes. Foi quando a Ana nos viu novamente, pois até então só escutava, apreensiva, o barulho dos animais. Nesse momento a própria Ana observou que as nossas agitadas elefantas se davam as trombas, como num gesto de “pegar na mão” para acalmar. Que lindo e significativo gesto! Nos tocou fundo no coração e nos trouxe o entendimento do valor de uma amizade.
Apesar do stress, foi um momento mágico de aprendizado, compreensão, respeito e admiração por esses seres gigantes.
Viva a amizade!
“Namaste!”
Muito bom Berna! Leitura fácil, ótima narrativa e muito bem escrito pela nossa encantadora de elefantes.
Legal Fernando! Fico feliz com com seu comentário.
Valeu Berna!
Adorei, você é otima contadora de histórias!
Obrigada Seve! Fico contente por sua opinião.
Lindoooo parabéns Berna!!! Foi perfeita a sua narrativa!
Grande momento da nossa aventura !