Estávamos perto das festas de final do ano de 2017, quando recebi um telefonema inesperado. Era a Maria Angela Dalcomune, uma super caminhante e que foi diretora de vários parques estaduais no Paraná me convidando para conhecer o Parque das Lauráceas, o maior parque estadual do Paraná com quase 30 mil hectares.
Fiquei curiosa, pois o Parque era pouco divulgado, bem isolado e de difícil acesso, entre os municípios de Tunas do Paraná e Adrianópolis no Vale do Ribeira (divisa com São Paulo) a 120 km de Curitiba. Apesar de ter sido criado em 1979, o Parque Estadual não estava aberto à visitação pública, apenas para pesquisadores autorizados. Fiquei muito feliz em saber que o Instituto Ambiental do Paraná – IAP estava implementando o Plano de Manejo no que dizia respeito à abertura para visitação pública. Eu estava sendo convidada para dar minha opinião sobre a estrutura e trilhas preparadas e para mais tarde levar o primeiro grupo de não pesquisadores.
Mais que depressa aceitei o convite! Sabia que no início do ano estaria em várias expedições entre Patagônia, Nepal e Índia, retornando apenas em maio. Se não visitasse o Parque naquela oportunidade, não sabia quando teria outra chance.
Senti-me extremamente honrada com o convite e também vi meu trabalho sendo reconhecido. Sempre dediquei esforços para que tudo desenvolvido na empresa Ana Wanke Turismo e Aventura seguisse valores, nos quais o respeito à natureza, ética e responsabilidade ganham sempre destaque.
Saímos de Curitiba eu, a Maria Angela e o Guilherme de Camargo Vasconcelos, Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas. Percorremos quase 70 km pela BR 116 e depois pegamos uma estrada secundária de chão por mais 50 km. Nenhuma alma viva nessa estrada de chão, apenas alguns reflorestamentos de pinus. Realmente levam-se algumas boas horas de estrada para chegar lá. Fomos recebidos pelo Gerente do Parque Michel Melo e sua equipe. Apesar de por ali já terem passado muitas serrarias que se utilizavam da floresta de forma extrativista, saltava aos olhos a exuberância da vegetação e era visível que a mata estava recuperada e preservada.
A sede do Parque é bem estruturada, contando com duas casas independentes e germinadas unidas por um lindo deck de madeira, duas bases avançadas, uma caminhonete traçada e 3 quadriciclos para que os funcionários pudessem percorrer o parque de ponta a ponta.
Percorremos a Trilha da Anta, com 2,4 km. A trilha está toda marcada com fitas, mas a umidade deixa o piso um pouco escorregadio. Junto a uma vegetação densa de verde deslumbrante, pudemos ver muitas pegadas de anta. Não é à toa que essa trilha leva seu nome.
Depois seguimos para a Trilha do Cemitério, mais 3,0 km. Antes de o Parque existir, ali havia uma vila e por consequência da ocupação humana, havia um cemitério. Não se vê vestígios da vila, mas o cemitério ainda está ali – Não é tão simples assim relocar um cemitério! Ao longo da trilha encontramos inúmeras árvores gigantes, as canelas, algumas marcadas com fitas azuis para fins de estudo. Aliás, o nome adotado para o Parque Estadual das Lauráceas (PEL) foi motivado pela grande ocorrência de exemplares da família botânica “Lauraceae” (canelas em geral). No total já foram identificadas 58 espécies de canelas no Parque.
No final da trilha chegamos à estrutura de camping, já estava quase pronta. Duas plataformas de madeira para acomodar barracas longe do solo úmido, um abrigo para fazer as refeições e banheiros excelentes. Nada ainda está liberado para uso, mas tudo foi bem projetado para dar comodidade ao usuário e não agredir o meio ambiente.
Deixamos para o dia seguinte visitar a parte mais distante do Parque. Fomo até a segunda base avançada há 10 km da sede. É uma casa que fica no alto para poder observar melhor a fauna local. Bem pertinho dali havia um recinto cercado, que receberia mais tarde um grupo de catetos, porcos do mato. Questionei a finalidade, pois sempre tive um pouco de receio de encontrar esses bichinhos no meio das trilhas. O Michel, gerente do parque, me explicou que seria um projeto experimental de pesquisa que visa obter dados sobre o papel dos Ungulados (divisão de mamíferos que compreendia os animais de casco) na Mata Atlântica do sul do Brasil, afinal estávamos em um dos remanescentes de uma outrora vasta biodiversidade paranaense.
Seguimos por mais 4 km de quadriciclo até chegar ao ponto que não podia mais seguir por estradas. Entramos trilha adentro para conhecer as Cachoeiras do Larguinho.
As trilhas nesse ponto ainda não estão preparadas para o visitante, mas valeu a pena ter ido até lá! Como o parque está em uma área de transição de Floresta Atlântica e Floresta de Araucária, existe muita diversidade e riqueza de flora e fauna, como veados e felinos. Muita luz, verde, floresta, água pura e cristalina. Algo muito especial: Um tesouro escondido!
Voltei para casa com minhas baterias recarregadas e a mente cheia de idéias. É um privilégio trabalhar ligada à natureza e pessoas a amam!
Primeira Turma
No domingo, dia 20 de maio de 2018, organizamos uma turma para conhecer o PEL. O grupo tinha 18 pessoas curiosas para ver com os próprios olhos tanta beleza natural preservada .
Foi um momento histórico, da primeira visita de um grupo de não pesquisadores no Parque Estadual das Lauráceas.
Mas como tudo é uma aventura, eu disse que o acesso não era assim tão fácil… e que quase a visita não pode acontecer. Já estávamos na estrada há quase três horas e ainda estávamos a cerca de 20 km da sede do PEL, quando numa subida encontramos um caminhão carregando pinus encalhado há quase 24 horas. Com habilidade nosso motorista passou pela lateral da carroceria do caminhão e pudemos seguir. A volta teria que ser por ali mesmo, pois a outra estrada que dava acesso, via Tunas do Paraná, estava intransitável para veículos como o nosso, uma van. Para nossa surpresa (e alívio) ele já não estava mais lá na nossa volta.
Enfim o grupo chegou ao Parque das Lauráceas e pode desfrutar das belezas, testar as trilhas, observar essa natureza tão bem conservada pelo Instituto Ambiental do Paraná! Todos voltaram encantados e recompensados.
Gostaria de agradecer ao Instituto Ambiental do Paraná, especialmente à Maria Angela Dalcomune, ao Guilherme de Camargo Vasconcelos, Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas e ao Michel Mello, Gerente do Parque Estadual das Lauráceas.
Quando criança morávamos dentro do parque e não sabíamos, era na vila da antiga serraria que tinha na região onde hoje fica o PEL, um pouco antes da sede da Berneck, morei aí ate os 9 anos, no ano de 1994 quando a serraria foi totalmente fechada e as famílias tiveram que se mudar. Nossa família foi morar em Inácio Martins/PR a 50 Km de Irati, onde vive até os dias de hoje. Gostaria muito de pode voltar um dia a esse lugar para ver como está hoje tantos anos depois, pois esta em minhas memórias de infância, foi na igreja que tinha na vila que fiz minha primeira comunhão, dentre tantas outras coisas, era um lugar mágico, onde todo mundo tinha tão pouco mas e éramos tão felizes e não sabíamos.
Olá Marcio! Acredito que será uma visita super especial assim que possível. Vamos deixar a pandemia passar para podermos agendar uma nova visita. Será muito especial para nós promovermos essa viagem nas suas memórias afetivas do lugar.