Foram quase 20 dias passados somente no norte da Índia. Para fechar minha viagem, como se fosse a cereja do bolo, fui visitar o Taj Mahal, lugar impressionante à margem do rio Yamuna, conhecido como a maior prova de amor do mundo. O lugar é tão especial, com muitas histórias, que me contive em simplesmente postar suas fotos nas mídias sociais e resolvi escrever e descrever com carinho este deslumbrante monumento. Realmente não foi à toa que foi eleito por unanimidade uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.
História do Taj Mahal
A história do Taj Mahal tem início em meados do século XVII, quando império Mongol dominava a Índia.
O imperador Shah Jahan, “O Rei do Mundo”, mantinha tinha várias mulheres e esposas no seu harém, algo comum no mundo islâmico da época. Mas ele tinha uma preferida: uma bela e jovem indiana chamada Aryumand Banu Begam, com quem teve 14 filhos. Ela faleceu aos 39 anos, ao dar à luz o último filho do imperador. Segundo crónicas posteriores, toda a corte chorou a morte da rainha durante 2 anos. Durante esse período, não houve musica, festas ou celebrações de espécie alguma em todo o reino.
Conta a história que Shah Jahan caiu em profunda tristeza e ordenou a construção de um mausoléu para honrar a memória de sua terceira esposa, Aryumand Banu Begam, que foi rebatizada com o nome de Mumtaz Mahal, ou seja, “a jóia do Palacio”.
Mas a história não acaba aqui. Os filhos de Shah Jahan, aproveitando-se da alienação e tristeza do pai, dividiram seu império. O golpe mais forte foi dado por seu filho Aurangzeb, que o teria prendido no forte de Agra, de onde o imperador passou o resto dos seus dias olhando o Taj Mahal por uma pequena janela do forte.
Shah Jahan morreu pouco depois da conclusão do Taj Mahal, em 1666. Ele foi sepultado dentro do mausoléu, ao lado de sua amada esposa.
Detalhes Construtivos
Antes do Taj Mahal ser construído, era habitual edificar com pedra vermelha. O próprio Forte de Agra, onde o imperador ficou preso até sua morte, é um belo exemplo disso.
Após a morte de Mumtaz Mahal, o imperador Shan Jahan revolucionou e mandou vir mármore branco de Makrana, no Rajastão, situada a mais de 300 km de distância de Agra. Foram necessárias rampas de 15 km para trazer os blocos em carros de bois de Agra e acomodá-los durante a construção.
O Taj Mahal não foi projetado por apenas uma pessoa. Foi necessária uma força tarefa composta por vários arquitetos, artesãos e construtores.
Estórias descrevem detalhes horríveis da construção do túmulo, acusando o imperador de mutilar membros daqueles que participaram na sua construção e até cegando os arquitetos e decoradores que criaram o Taj Mahal, mas nenhuma referência respeitável permite assegurar estas hipóteses.
Alguns registros encontrados incluem escultores de Bucara, calígrafos da Síria e Pérsia, mestres em incrustação do sul da Índia, cortadores de pedra de Baluchistão, especialista em construir torres, outro que gravava flores sobre os mármores, completando um total de 37 artesãos principais. Historiadores estimam que esta equipe foi acompanhada por uma força de trabalho braçal superior a 20.000 trabalhadores.
As obras foram iniciadas em 1632 e feitas por etapas. O mausoléu em si foi completado em 1643, mas o trabalho continuou no resto do complexo, que levou num total de 21 anos para ser concluído.
O Taj Mahal está disposto em forma de um grande “T” com o mausoléu num extremo. O complexo está limitado por três lados por um muro em pedra vermelha. Após os muros, existem vários mausoléus secundários.
A entrada principal, a “darwaza”, é um edifício monumental construído também em pedra vermelha.
O Mausoléu está enquadrado num jardim simétrico, tipicamente muçulmano, dividido em quadrados iguais, cruzado por um canal ladeado de ciprestes. Sobre o edifício surge uma cúpula costurada com fios de ouro, a “Coroa do Taj”. Dentro dele estão os túmulos de Mumtaz Mahal (no centro) e do imperador Shah Jahan, sepultado posteriormente, sendo esta a única quebra na perfeita simetria de todo o complexo do Taj Mahal. O piso está coberto por mosaicos de cores e formas distintas combinados em padrões geométricos diferentes. Nele só se pisa com protetores para os sapatos!
Ah, outra curiosidade, o que se visita no interior do Mausoléu são os cenotáfios de Mumtaz e Shah Jahan. Seus corpos descansam numa câmara relativamente simples debaixo da sala principal do Taj Mahal. Estão sepultados segundo um eixo norte-sul, com os rostos inclinados para a direita, em direcção a Meca.
O Mausoléu também é cercado por quatro minaretes, colunas de onde se anunciam as cinco chamadas diárias à oração na religião muçulmana. Detalhe interessante que eles foram construídos com uma leve inclinação para fora, para o caso de caírem não atingirem o mausoléu.
No extremo do complexo erguem-se dois grandes edifícios laterais ao mausoléu. Ambos são simétricos, fiéis ao reflexo um do outro. O edifício ocidental é uma mesquita e o seu oposto é o jawab, que se acredita ter sido usado antigamente como hospedaria.
Decoração
A religião islâmica não permite a representação humana, então os elementos decorativos do Taj Mahal são basicamente: caligrafia, elementos geométricos abstratos e motivos vegetais.
Estas decorações efetuaram-se com três técnicas diferentes: Pintura ou estuque aplicado sobre as paredes, incrustação de pedras e esculturas.
Na caligrafia, são todas passagens do Corão, com textos referentes à justiças, ao inferno para os incrédulos e à promessa de paraíso para os fiéis. É impressionante observar que as letras estão incrustadas com quartzo opaco sobre o mármore branco. Tudo tão perfeito que os textos que estão nos painéis superiores foram escritos com caligrafia proporcionada para compensar a distorção visual que se tem ao observá-los desde baixo.
Mas o que mais me impressionou foi a técnica de incrustações de pedras. Isso me chamou tanto a atenção que fui visitar pessoalmente um local onde se fazia um trabalho semelhante. Descobri que o mármore branco utilizado na construção do Taj Mahal é muito duro e pouco poroso, sendo necessária uma boa força para poder escavá-lo. O processo começa com o tingimento da superfície do mármore em laranja, depois de fixado, o desenho é escavado em baixo relevo. Em seguida as pedras semipreciosas são lapidadas em lascas no tamanho exato para formar um mosaico que encaixe no baixo relevo escavado. Uma flor de apenas sete centímetros quadrados pode ter até 60 incrustações distintas. Entre as pedras usadas encontram-se jade e cristal da China, Turquesa do Tibet, Lapis Lazulis do Afeganistão, Ágatas do Yemen, Safiras do Ceilão, Ametistas da Pérsia, Corais da Arábia Saudita, Quartzo dos Himalaias, Ambar do Oceano Índico.
Ameaças ao Taj Mahal
A fuligem de fábricas próximas estava deixando o Taj Mahal amarelado. Em 1993, o supremo tribunal da Índia ordenou o fechamento de mais de 500 estabelecimentos industriais próximos ao monumento a menos que estes instalassem dispositivos para controle da poluição ou passassem a usar combustíveis que gerassem menos poluentes. No fim das contas, 212 dessas indústrias foram fechadas, provocando o desemprego de 13 mil trabalhadores.
Também na intenção de diminuir a agressão da poluição às paredes brancas do monumento, os tribunais baniram os veículos queimadores de gás nas proximidades do Taj Mahal. Hoje somente carros elétricos podem se aproximar da construção.
Agora o Taj Mahal está ficando verde. A “proliferação explosiva” dos insetos Chironomus Calligraphus (Geoldichironomus) está cobrindo o Taj Mahal de fezes verde-escuras. A água do Yamuna está tão parada que os peixes que se alimentavam dos insetos estão morrendo, o que permite a proliferação das pestes no rio.
As manchas deixadas pelos insetos são removíveis, e funcionários da Agência Arqueológica da Índia (ASI) estão esfregando argila nas paredes do monumento para tirar a sujeira. Porém, o uso frequente dessa técnica reduz o brilho do mármore, prejudicando o esplendor da construção. Ambientalistas pedem uma limpeza urgente do rio Yamuna.
Taj Negro
Uma lenda afirma que o Imperador Shah Jahan previu construir um mausoléu idêntico ao Taj Mahal na margem oposta do rio Yamuna, substituindo o mármore branco por negro, e ambos os prédios seriam unidos através de uma ponte de ouro. Porém Shah Jahan foi destronado por seu filho Aurangzeb antes de que a versão negra fosse edificada.
Alguns dizem que este Taj preto foi construído e depois destruído, pois foram encontrados restos de mármore negro no rio. Alguns arqueólogos atribuem a cor negra dos blocos à ação do tempo sobre o mármore branco originalmente abandonado no local.
Seja como for, em frente ao Taj Mahal, do outro lado do rio Yamuna, pode-se caminhar por jardins gêmeos aos do mausoléu de Mumtaz Mahal. Arqueólogos nomearam este segundo Taj, como o “Mahtab Bagh” ou ” Jardim da Luz da Lua”.
Diz a lenda que nas noites de lua cheia, quando essa pousada sobre o Mausoléu, projetava-se uma sombra na água do lago (agora vazio), junto ao jardim oposto: o reflexo perfeito do Taj Mahal em preto.
Encantador seu texto Ana!
O primeiro desejo enquanto lia seu texto:
visitar o Taj Mahal✈️🧘🏻♀️
🙏🏽Namaste!