A Estrada de Santos faz parte das minhas melhores memórias de infância. Uma vez toda a família foi de carro de Paranaguá até o Rio de Janeiro passando pela Estrada de Santos, no nosso sensacional Opala Vermelho.
Quando passamos pela Estrada de Santos, todos nós no carro: meu pai Paulo, minha mãe Mary e minha irmã Gianna – cantamos a música imortalizada por Roberto Carlos, composta em parceria com o Tremendão Erasmo Carlos. “…Na estrada de Santos as curvas se acabam… eu não vou mais passar..”
E logo depois, em 1985, não é que ela foi fechada mesmo!!! Com a Via Anchieta e a Rodovia dos Imigrantes, essa estrada foi passada para trás e ficou subutilizada.
Depois de um período de reformas, em dezembro 2013, o trecho de nove quilômetros que liga o planalto ao litoral, hoje popularmente conhecido como Estrada Velha de Santos, foi reaberto à visitação como um destino turístico, que faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar.
Quando soube que ela tinha sido reaberta, pensei: “Se o Roberto Carlos não vai mais passar (como na música) será uma pena, mas eu vou!”
Como sempre faço com os roteiros que proponho, fui até lá conferir como tudo funcionava e o que tinha de especial, pois era criança quando passei por lá.
A Estrada Velha de Santos já foi o principal caminho para a ligação entre a planície e o planalto paulista, mais ou menos como a imã paranaense Estrada da Graciosa. Era chamada Trilha dos Tupiniquins, Caminho de Paranapiacaba ou Caminho de Piaçaguera. Foi a mais antiga e principal ligação entre o litoral e São Paulo durante o período colonial.
O primeiro ponto a ser visitado é o Pouso Paranapiacaba – “Paranapiacaba” quer dizer “Lugar do qual se vê o mar” em tupi. Construção linda, com detalhes em granito, cercado de varandas. Para completar, tem um lindo painel de azulejos pintados em azul, retratando o mapa do Estado de São Paulo e as estradas existente na época. Era um antigo ponto de parada de carros durante a viagem entre Santos e São Paulo.
Há quem diga que Pedro I se encontrava com a Marquesa de Santos lá, mas isso seria impossível porque o imperador morreu em 1834 e a marquesa em 1867, sendo que o pouso foi construído apenas em 1922 em homenagem ao centenário da independência!
Outro lugar interessante é o Belvedere Circular (outro ponto de parada e mirante), onde a estrada cruza pela primeira vez com a Calçada do Lorena.
A Calçada do Lorena foi primeiro caminho pavimentado com degraus em pedras a ligar o litoral ao planalto paulista, foi construída em 1792. Além de ser muito semelhante ao nosso Caminho do Itupava, é incrível saber que D. Pedro I subiu a calçada para ir de Santos às margens do rio Ipiranga proclamar a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822!
Já no Rancho da Maioridade, que foi construído para descanso dos viajantes, ainda pode-se ver as bicas usadas antigamente para matar a sede das pessoas e dos radiadores dos carros. Aliás a parada tem esse nome porque a estrada já foi chamada Estrada da Maioridade, em homenagem à maioridade de D. Pedro II.
O último monumento histórico é o Padrão do Lorena, na verdade é um memorial com cenas do século XVIII pintadas na cor azul em azulejos. Foi construído em homenagem a Bernardo José Maria de Lorena, governador da capitania de São Paulo, que mandou construir a “Calçada do Lorena”.
Lembrando que tudo isso está envolto por uma porção muito bem preservada de Mata Atlântica.
No nosso roteiro levaremos em torno de 4 a 5 horas para percorrer e saborear esta estrada toda em descida, seus monumentos, natureza e beleza cênica. Nosso transporte estará nos esperando lá em baixo, na portaria do Parque na cidade de Cubatão.