O Caminho de Santiago tem suas origens na primeira jornada feita pelo rei Alfonso II no ano de 813 para reconhecer os restos mortais do Apóstolo Tiago, encontrado num antigo cemitério romano no Bosque de Libredón. Em pouco tempo o Caminho de Santiago se desenvolveu levando milhares de peregrinos ao sepulcro de Santiago.
Reis e membros do clero começaram a construir abrigos, estradas, pontes e hospitais para facilitar a peregrinação daqueles que estavam a caminho de Santiago de Compostela. Mesmo assim os peregrinos tinham que enfrentar muitos assaltantes, e é aí que uma ordem, famosa em alguns aspectos, mas também envolta em mistério, aparece: a Ordem dos Cavaleiros Templários.
Os Templários, oficialmente a “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão”, eram uma ordem militar cristã durante a Idade Média, fundada no início do século XII por nove cavaleiros franceses, cuja missão era patrulhar o caminho para Jerusalém e proteger os peregrinos após sua conquista na Primeira Cruzada.
O poder dessa ordem cresceu rapidamente graças a vários fatores, embora a principal razão seja o fato de eles gerenciarem a numeração árabe enquanto o resto da Europa ainda estava usando a numeração romana, o que lhes permitiu desenvolver seus conhecimentos de aritmética, geometria e trigonometria, e seria aplicado para criar um sistema que seria um antecessor do sistema bancário que temos hoje. Isso acabaria sendo usado para enganá-los e torná-los inimigos daqueles que acabariam destruindo-os: Mas isso é outra história para outro post. Vamos agora focar no que os Cavaleiros Templários deixaram no Caminho.
Quando o Caminho de Santiago começou a ganhar importância e a atrair cada vez mais peregrinos, os Templários perceberam que essas pessoas também precisavam da sua proteção e acabaram se instalando em vários pontos.
Ainda hoje pode-se ver algumas construções que marcam a presença da Ordem dos Templários no Caminho de Santiago.
Ermida de Eunate
Próxima a Puente La Reina, onde “todos os Caminhos se encontram”, ainda no Caminho Aragonês e isolada no campo, a igreja românica de Santa Maria de Eunate tem atraído, ao longo dos tempos, a curiosidade dos peregrinos.
Embora não exista documentação para provar conclusivamente as origens templárias desta igreja, há certas características que nos levam a crer que os Cavaleiros Templários tinham algo a ver com sua construção: desde a sua planta octogonal (típico da construção templária) até sua suposta similaridade ao Domo da Rocha em Jerusalém, situado no templo do rei Salomão, onde os templários tiveram sua primeira morada.
A Igreja está rodeada por uma arqueria octogonal exterior, que cumpre a função de claustro. A cúpula denota uma influência muçulmana, própria do sincretismo cultural que caracteriza o Caminho de Santiago.
Parece ser que a Igreja também funcionava como um farol de orientação para os caminhantes, através de uma espécie de lanterna localizada na torre, dentro da qual se mantinha aceso o fogo que servia de ponto de referência para o peregrino.
O que não há dúvidas, é que a igreja cumpria a função de cemitério de peregrinos, graças aos enterramentos encontrados com a concha, símbolo dos peregrinos do Caminho de Santiago.
Existem diversas lendas e histórias a respeito desta pequena e bela igreja. Entre elas está a interessante lenda dos pórticos gêmeos, recheada de figuras folclóricas da região.
Igreja do crucifixo
Em Puente la Reina, no início do Caminho Francês, encontramos esta igreja que remonta ao final do século XII e foi fundada pela ordem dos Cavaleiros Templários sob o nome de Santa María de los Huertos. A parte original é em estilo românico, coisa que no Brasil não temos, e mais tarde, no século XIV outra nave de estilo gótico foi erguida.
Do lado de fora se destaca a existência de uma passagem coberta ligando o templo ao antigo hospital de peregrinos.
No interior, existe um misterioso crucifixo de grandes dimensões e na forma de um Y, considerado uma das melhores obras de imagens góticas preservadas na Espanha.
Embora seja atribuída uma possível origem templária, não há dados para confirmá-la, uma vez que o primeiro documento que se refere a esta peça data de 1325 e a Ordem do Templo foi extinta em 1312. Uma lenda conta que o crucifixo foi doado por alguns Peregrinos alemães que, ao voltarem de Santiago, agradeceram o bom tratamento recebido no hospital de peregrinos de Puente la Reina ao presentear a igreja com a cruz que eles carregavam nos ombros durante a peregrinação.
Igreja do Santo Sepulcro
A igreja que mais se assemelha a Santa Maria de Eunate é a também poligonal igreja de Torres del Rio, igualmente situada em Navarra, mas que não apresenta a arqueria exterior.
Construída sob uma estética claramente românica, esta igreja também serviu como farol para os peregrinos no Caminho.
Sua origem templária é muito mais reconhecida do que a Ermida de Eunate, uma vez que existem vários documentos ligando essa igreja à Ordem, além de outras descobertas, incluindo corpos enterrados em torno da igreja usando trajes típicos templários.
E se você passar por lá e ela estiver fechada, dê uma olhadinha no papel fixado na porta da Igreja, ali estará a indicação de onde está a chave para você entrar.
Igreja de Santa Maria da Blanca
Em Villalcazar de Sirga, os Cavaleiros Templários fundaram no século XIII o magnífico templo de Santa María de la Blanca, de estilo de transição do Românico para o Gótico.
Foi um dos centros religiosos mais importantes do Caminho de Santiago e até hoje ser reconhecida pelo seu grande valor artístico. Os elementos mais destacados são o conjunto escultural da portada, do século XIII, a coleção de túmulos policromados no interior, gótico dos séculos XIII e XIV e o retábulo gótico dos séculos XV e XVI.
Igreja de San Juan
Com restos românicos em sua base e localizado ao longo do Caminho de Santiago próximo a Castrojeriz, este imenso templo colunar de 3 naves pertencia aos Templários antes de passar para a Ordem dos Hospitalários, uma vez que a Ordem dos Templário foi extinta.
Igreja Paroquial de Rabanal del Camino
Nesse caso, não estamos falando apenas da igreja, mas também da cidade de Rabanal del Camino, de origem puramente templária: resultado de um avanço da Ordem de Ponferrada, que buscava proteger os peregrinos que atravessavam as montanhas de Leon até Bierzo. Nesse sentido, a Igreja Paroquial não se destaca apenas por suas origens templárias, mas também por ser um dos poucos exemplos remanescentes do românico leonês.
O Castelo Ponferrada
Em 1178, Ponferrada tornou-se um sujeito da Ordem do Templo, graças a uma doação dos reis leoneses. Quando os templários chegaram lá, encontraram uma pequena fortaleza, que anteriormente servia como um forte romano. A partir daí começou uma série de expansões que serviriam para transformar o complexo em defesa do Caminho, que terminaria apenas em 1282 (o que vemos hoje tem muito mais reformas feitas ao longo dos séculos).
Todo ele é um criptograma em pedra repleto de signos, símbolos e vinculações astronômicas que fazem o delírio de muitos amantes dos Templários e dos seus ritos de iniciação.
Há quem acredite que a Ordem resgatou dos subterrâneos das ruínas do Templo de Jerusalém, a “Arca da Aliança” ou o “Santo Graal” e que depois desta missão reuniram-se no Concílio Ecumênico de Troyes em 1128 para fundar oficialmente a Ordem para esconder esses tesouros. Especulações dizem que o local escolhido foi o Castelo de Ponferrada.
Também existe uma lenda sobre Jack de Molay (ou Tiago de Molay), o último Grão Mestre Templário, Ele teria deixado sua espada como oferenda no Castelo de Ponferrada quando ele fez o Caminho de Santiago.
Esses monumentos sobreviveram por séculos e viram milhões de peregrinos passarem em direção à Santiago de Compostela. Lendas e mistérios sempre envolveram os Templários. Você conhece alguma ligada ao Caminho de Santiago, compartilhe aqui!
Li da história, cheia de romantismo né fé! Parabéns por tocar em uma assunto tão especial para mim e para muitos que amam está história cheia de mistérios devoção e fé.
Que bom que gostou André. Estudei tudo com muito carinho.
Tenho 69 anos fiz o caminho de santiago em 2017