Sempre haverá feridas abertas no Caminho. Há aquelas que levamos conosco, e há aquelas que são forjadas lá mesmo.
Entretanto, o mundo não pára um segundo sequer para que curemo-nos ou para que consertemos o nosso coração.
Desta forma, parafraseando autores; alguns conhecidos por este que vos escreve, assim início esse texto, que se trata mais de uma reflexão.
O Caminho da Fé sempre foi um roteiro mágico para mim.
Desde a primeira vez que o galguei, em 2009/2010, senti uma energia especial e diferente; há um “quê” de misticismo, de uma certa responsabilidade especial da qual aqueles que resolvem seguir por seus infindáveis quilômetros são investidos.
Sempre gostei da simplicidade e do sorriso fácil dos seus habitantes; do pedido singelo e sincero de intercessão e proteção vindos de faces sofridas advindas do sol, do trabalho árduo e do tempo… Ah! O tempo…
Vi com cautela as transformações de sua estrutura, dos seus caminhantes, dos seus colaboradores, do seu povo…
Ao longo destes anos, vi choros: alguns de alegria e emoção, outros de dor e desesperança. Algumas lágrimas também correram dos meus olhos pelos mesmos motivos.
Vi risos de felicidade. Vi risos de vergonha e nervosismo. Eu mesmo, ri muitas vezes.
Presenciei indiferenças, orgulhos e competitividades que transformaram-se em empatia e compaixão.
Fiz o Caminho da Fé com várias propostas ao longo dos anos.
Porém, para mim desta vez, foi diferente
Fui com o coração leve e tranquilo. Sem muita perspectiva e sem cobranças… Internas e externas. Fui de coração aberto, como se diz por aí.
Estava, deveras, com o coração (de certa forma) triste; num misto de saudades, chateação e alegria; levando pessoas queridas que não estão mais comigo fisicamente… Contudo, as levei junto do peito e caminharam comigo todas as centenas de quilômetros que trilhei.
Vi seus rostos do outro lado da mesa. Sorrindo. Tomando vinho. Contando piadas. Me olhando com carinho e ternura. Sentindo gratidão e admiração. Brincando comigo.
Isso deixou meu coração com ainda mais saudades. Mas o preencheu de felicidade e paz.
Lado a lado, estávamos seguindo juntos, abraçados, numa grande fileira; recordando os bons momentos que vivemos bem ali.
Por qual dos Caminhos jazem as respostas?
Por qual dos Ramais deixamos a nossa paz e nossa esperança?
Em qual curva encontraremos a mão amiga que nos segura a mochila (ou pela mochila), ou nos estende a tão preciosa e merecida água?
Como conseguir o sonhado equilíbrio, para enfrentar as temidas descidas e as penosas adversidades pessoais, sem escorregar?
Nesse caminho, descobri que cada um deixa uma marca. Às vezes cansamo-nos das que deixamos e moldamos um outro carimbo para assinalarmos o espaço em branco da Credencial Pessoal que cada um nos cede ao longo da caminhada.
Percebi que há, na verdade, duas credenciais a serem carimbadas.
Como em todo Caminho, nem tudo são flores: Há dores, suores, bolhas, forças, íngremes subidas e descidas e alguns atoleiros. Mas há a brisa. Há a temida chuva que se transforma em água que lava e leva todas as preocupações. Há paisagens, superações, amizades e companheirismo.
Há feridas que se abrem no Caminho.
Mas há mazelas que se curam nele.
Entender isso é uma dádiva.
Feliz daquele que isso puder experimentar.
Nesse Caminho da Fé, pude comprovar que há uma fonte inesgotável de bondade e perdão dentro de cada um de nós, pronto para ser usado a cada instante.
Percebi que não podemos deixar outras pessoas decidirem por nós mesmos em sermos bondosos; entre perdoar ou ser perdoado ou não. Essa é uma decisão pessoal, individual e intransferível.
Senti que as pessoas que estavam em meu caminho, cada uma a seu modo, me ajudaram a subir mais um degrau na ascensão da minha existência. Quando percebi isso, fiquei orgulhoso e feliz pela decisão que havia tomado.
Queira, a Divina Providência, que eu também tenha feito alguma diferença na existência de alguém. Que, assim como tantos outros fizeram à mim, eu tenha servido de exemplo.
O tempo está fazendo seu papel.
Mudou o Caminho. Mas me mudou também.
Há feridas que são difíceis de curar, é verdade. Isso não quer dizer que não podemos mais nos permitir tentar nos curar. Mesmo correndo o risco de se ferir, se machucar ou escorregar uma vez mais…
O que ganhamos?
Ora, está tudo aí nessa reflexão: amigos, risos, choros, abraços, saudades, ternura, empatia, compaixão… E a chance de fazer tudo igual ou tudo diferente no próximo quilômetro… Na próxima curva…
Agora, parafraseando o próprio autor que vos escreve, reafirmo:
O Tempo muda tudo: Acalenta a alma e cura os corações partidos.
Que tenhamos a serenidade de permitir-mo-nos a dádiva de viver intensamente e experimentar ser feliz, pelo tempo que a gente desejar…
Papael, fantástica reflexão ! Você conseguiu colocar no papel todas as emoções que a gente sente ao trilhar o caminho. E sempre fica a vontade de fazer mais uma vez, e outra. Parabéns, você foi fundamental na minha caminhada
Lindo relato!!! Em breve poderei testemunhar tudo isso no Caminhi da Fé. Obrigada pelas palavras pois são um incentivo e tanto…
Papael, muito emocionante o seu texto, gostei muito!