“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz”
O Pequeno Príncipe
Este artigo é a parte 4 de 7 da série: “O Pequeno Príncipe” – Pequenas frases que mudam vidas
Nesse trecho, a raposa, um dos personagens mais enigmáticos do livro, nos fala sobre os rituais e do quão importantes eles são para o nosso dia-a-dia. Mas a personagem também nos fala sobre a ansiedade, felicidade e a decepção.
Quem já não se pegou contando as horas para rever alguém estimado ou então, se viu quase indo ao aeroporto três dias antes do embarque de uma viagem muito esperada? Lógico que nem tudo são flores e você pode acabar esperando por alguém com ansiedade e não ser correspondido ou alguma coisa pode sair do controle e não sair como planejado. É normal nos sentirmos tristes, chateados e até mesmo decepcionados com algumas situações e isso faz parte da vida. São ritos: as vezes de alegria e às vezes de luto. – E vai por mim: esses momentos, embora não pareçam, são maravilhosos porque, no futuro, nos causarão um sentimento chamado empatia. Ela será uma das chaves para que aconteçam coisas surpreendentes na vida dos outros. E se você já aprendeu como funciona o universo, já entendeu quem será o maior ganhador nisso tudo…
Os ritos são importantes porque eles nos preparam para as situações virtuais, ou seja, não sabemos realmente se acontecerão porque estão no campo do imaginário e do futuro. Eles também nos fazem rememorar acontecimentos passados, fazendo com que tomemos atitudes baseadas em experiências passadas, fazendo-nos escolher de um modo mais fácil o que fazer.
Mas os ritos são a ferramenta para algo que talvez você nunca tenha parado muito para pensar e, acredite, se decidir fazê-lo agora, verá que não é tão simples quanto parece: esse algo é a Doação.
Doar-se é muito mais do que Caridade. Geralmente elas andam juntas, mas a Doação da qual quero falar é muito mais profunda e complexa.
Doar-se está atrelado em poder oferecer acolhimento à quem necessita, é abrigar os menos favorecidos. Doar-se é ter coragem para desapegar de preceitos e preconceitos. A Doação vai muito além do altruísmo. Para a Doação é preciso coragem!
O que é Doação?
Talvez você tenha imaginado a Doação como aquela ação social no orfanato ou asilo no final do ano… São atitudes louváveis e importantíssimas– são centelhas de doação – Dedicar um pouco de tempo, atenção ou dinheiro fazem muita diferença aos necessitados. Mas quero te fazer pensar além: Você estaria disposto a diminuir, por exemplo, sua aposentadoria para que outros possam ser beneficiados? Diminuiria o tamanho de sua casa para que outros também possam ter um telhado sobre a cabeça? Iria à presídios levar uma palavra de conforto e ânimo para pessoas que a sociedade julga serem ruins? Daria a outra face? Se pensar bem, talvez só para alguém da sua família ou um amigo muito próximo…
É por isso que afirmo: Doação está muito além do plano material. Ser bondoso ou generoso com pessoas que nos fazem o mesmo é fácil. Porém, doar animosidade e gentileza com pessoas que são grosseiras, amargas ou extremamente tristes é muito difícil.
A Doação é difícil porque somos seres essencialmente muito egoístas. E, por favor, não entendam a palavra egoísmo como um sentimento ruim. Esse entendimento “ruim” são traços de uma cultura ocidentalizada e, muitas vezes, mimada. O fato é que o egoísmo, ou seja, “estar voltado para si”, faz com que pensemos sempre em estarmos acalentados, alimentados e abrigados. (Lembrou-se de um bebê no útero ou um recém-nascido? Pois bem.) Isso é fácil quando se tem as ferramentas certas. Mas e quem não as tem? Aí, nesse momento é que há a oportunidade da Doação. Portanto, egoísmo pode ser uma navalha de poda, porém também pode ser também uma semente para a Doação. De qual ponto do prisma você irá ver? Lembre-se dos sentimentos bons que você gosta de sentir. Tiraria um pouco de si e do seu conforto para que outras pessoas pudessem experimentar isso também?
Lembro-me de uma história que presenciei
“Era uma caminhada mágica. Em reuniões sobre o Caminho da Fé falava sobre o quão especial era esse roteiro. As pessoas presentes, enquanto me ouviam falar, olhavam-me com uma cara de quem estava olhando um “doidão”. Elas não entendiam muito bem quando ouviam falar sobre mudanças mágicas nas pessoas ou sobre quando eu falava sobre o imaginário popular de um certo “poder sobrenatural” que os peregrinos passavam a ter. Eles eram mensageiros, curandeiros, mágicos.
Passamos dias maravilhosos (e às vezes desgastantes com o calor, poeira e altimetria impiedosa). Havia uma infinidade de personalidades diferentes, ritmos diferentes, humores diferentes. Enfim, era uma “Babel”. Havia um que se destacava entre os outros, era um homem mais forte e ágil, obstinado e focado. Optava por fazer sua caminhada de forma mais rápida, silenciosa e solitária. Era sempre o primeiro a chegar nos pontos de parada. Mas isso estava prestes a mudar…
Por algum motivo – bem especial -, ele foi escolhido por um morador da região para levar um pedido até Aparecida. Depois disso, alguma coisa nele mudou. Mas só quem estava lá percebeu coisas que não consigo transcrever aqui. O que posso dizer é que ele mudou sua postura, seu jeito de falar. Começou a andar devagar sendo, por diversas vezes, o “último da fila”. Parecia que não queria mais que o caminho acabasse. Ia carregando o papel no bolso, pensando sobre qual era o seu conteúdo. Riqueza? Poder? Cura? Quilometro após quilometro ia vencendo a curiosidade sobre as linhas que foram escritas.
Não vou contar o final da história. Ele está reservado para um outro momento bem mais oportuno e nobre. Em um outro veículo que está sendo criado nesse exato momento e está ficando lindo. Mas o que posso dizer é que o homem completou a missão confiada à ele no Caminho. E adianto que, se achavam que a Doação estava no ato dele levar uma mensagem à Basílica, estão enganados. A Doação veio depois que todos os ritos necessários foram efetuados na Basílica. Foi quando ele abriu o conteúdo do singelo papel. Ali, ele mudou para sempre.”
Eu não disse que seria fácil, não é mesmo?
Portanto, com visto acima, para que haja Doação é necessário bondade, acolhimento, abrigo, coragem, desapego, dedicação e até mesmo uma pitada de privação e egoísmo. Eu não disse que seria fácil, não é mesmo?
Mas, acima de tudo, são necessários Ritos, que nos fazem pensar através de experiência passadas. A partir deles nos colocamos no lugar do outro, através da empatia. Então, a Doação está prestes a acontecer. Desta forma, ficamos cada vez mais perto do Amor Incondicional.
Assim, “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz”, porque sei que me sentirei feliz pois algum tipo de doação irá acontecer. Mas, lembre-se: “É preciso ritos”.
Isso porque, lá no fundo, sabemos que “O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração”, mas isso é papo para uma outra vez…
E aí está a quarta parte da série!
Ao escrever essa série – dividida em 7 partes – coloquei muito sentimento em cada linha, em cada pensamento, em cada frase escrita aqui. Tem muito do meu coração em todo esse raciocínio. Espero que essa coluna atinja o seu coração também. Que tal se permitir receber toda essa energia boa?
Então, convido você a dedicar um pouquinho do seu tempo para você mesmo, e tentarei exprimir como singelas frases de um livro infantil podem mudar a sua vida de uma forma incrível. Vamos viajar?
Leia também a primeira, a segunda, a terceira, a quarta e a quinta parte: O Tempo – A Ponte – O Espinho – A Doação – O Invisível
» Baseado no livro “O Pequeno Príncipe” – Antoine de Saint- Exupéry – 1943
Papael,
Maravilhoso o seu texto! Lindas as suas palavras e emocionante como toca minha alma e meu coração esse jeito leve e delicado de falar de coisas que, muitas vezes, insistimos em esquecer ou esconder!!!
Esses dias falei pra uma pessoa especial que sou fã de Fernando Pessoa e mandei esse trecho dele:
“Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo”
Mas você, posso dizer bem alto, você escreve muita gente!!
Parabéns!!!!
Nininha
Obrigado pelo carinho, Nininha.
Isso nos dá mais ânimo para continuar emocionando e escrevendo tantas outras pessoas.
Um beijo
Papa
Show de bola, Papael. Doar-se é um ato de amor e de profundo desprendimento.
“O generoso prosperá; quem dá alivio aos outros, alivio receberá.” Pv 11:25
Gratidão Otávio!
Tenho você como espelho através de sua generosidade e paciência.
Obrigado por me fazer melhor e servir de inspiração também.
Cada palavra, cada linha, cada frase, quanta expressividade. Uau Papael…. enriqueça-nos sempre com os contos e um pouco de si mesmo que nos doa em cada pensamento. Obrigada!!!!
Que lindo, Leila! Muito obrigado pelas palavras.
Continue lendo nossos proximos textos… Estarão cheios de emoções e histórias. Quem sabe você não se identifica?
Beijos grandes!