Se você já andou em ambiente de montanha, com certeza já se viu com perguntas do tipo: “Como essa corrente parou aqui?”, “Quem trouxe estas pedras e estas tabuas de contenção até aqui em cima?” “Como será que é feita a manutenção das trilhas?” “Quem mantém tudo isso aberto?”.
Realmente estas são questões bem pertinentes quando nos deparamos com trilhas abertas, sinalizações ou com intervenções humanas em terrenos e lugares inóspitos; alguns bem longe de qualquer tipo de civilização.
Bem, para começar a explicar isso, você deve ter em mente como é a organização montanhista no Brasil. Ao redor do mundo o organograma é muito parecido, porém cada país tem uma certa autonomia (respeitando certos padrões) para decidir como se organizar.
No nível de montanhismo, escalada e alpinismo brasileiro, podemos usar como exemplo a seguinte organização: as Associações e Clubes (representados no Brasil, como o Clube Paranaense de Montanhismo, a Associação dos Montanhistas de Cristo, o Clube Alpino Paulista e o Centro Excursionista Brasileiro) estão ligados às Federações (como a FEPAM -Federação Paranaense de Montanhismo-, a FEMESP – Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo e a FEMERJ – Federação de Esporte de Montanha do Estado do Rio de Janeiro); estas entidades estão ligadas ao CBME ( a Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada); é ela quem dita as normas para o esporte no Brasil. Para fecharmos o organograma, a CBME está filiada a UIAA (Union Internationale des Associations d’Alpinisme/International Climbing and Montaineering Federation) que é a Federação máxima internacional nos esportes ligados à montanha.
A UIAA é a Federação Internacional reconhecida pelo COI / IOC (Comitê Olímpico Internacional/Internacional Olympic Commitee). Ela é a responsável pelas normas de referência mundial, questões éticas, técnicas, formativas e legais; como, por exemplo, a certificação de outros órgãos gestores, certificação de materiais utilizados para à prática de esportes e a forma de como utilizá-los. Ou seja, ela é quem responde pela padronização das coisas ligadas ao Montanhismo e Escalada buscando as melhores práticas.
Portanto, suas normas são utilizadas como balizadoras das condutas daqueles que se submetem aos esportes e atividades ao ar livre em ambiente montanhoso. Ou seja, àqueles que desejam estão conectados à estes ambientes devem seguir uma norma de conduta para que as coisas estejam em harmonia.
Estas normas e iniciativas também estão interligadas quando falamos em Mutirões e ações para manutenção de trilhas e prevenção e combate à incêndios.
No Paraná, historicamente, as manutenções e intervenções se davam através dos Clubes de Montanha organizados. Obviamente, não podemos nos esquecer do nome de Rudolph Stamm (conquistador do Pico Paraná), grande pioneiro que foi um grande entusiasta na abertura e manutenção de trilhas; principalmente no berço do montanhismo brasileiro, o Marumbi.
Na atualidade paranaense, a FEPAM segue como o tronco principal das ações; organizando, dando suporte e treinando, através de parcerias, os voluntários que se dispõem a fazer esse incrível trabalho de “formiguinha”.
Embora a FEPAM seja este alicerce, a ideia que se está construindo é a da descentralização, onde cada grupo, clube ou associação pode se mobilizar, planejar as ações, articular a sanidade de suas necessidades e colocar a “mão na massa” sem que a FEPAM tenha que organizar tudo. Esse trabalho está engatilhando, mas já é bem claro que os voluntários entenderam o recado e, portanto, já iniciaram esse tipo de conceito, começando a dar bons frutos.
Os trabalhos são totalmente voluntários, prestados por aqueles que amam a montanha e mantêm uma relação muito forte e íntima com a natureza. Aliás, são grandes guerreiros, que deixam o conforto de seus lares para levar pedras, materiais e garrafas pets com água montanha acima, organizando e utilizando os mesmos em locais que analisaram ser necessário.
Hoje, podemos dizer que há dois “braços” organizados e “liderados” pela FEPAM – o “VOLUNTÁRIOS FEPAM”, que está vinculada às ações dos mutirões de manutenção de trilhas e a formação dos “DEPÓSITOS Du Bois” e a BRIGADA DE COMBATE A INCÊNDIO FEPAM que, como o próprio nome sugere, é a organização de voluntários treinados em parceria com o CORPO DE BOMBEIROS, para o SUPORTE às ações de combate à incêndio do Corpo de Bombeiros.
Normalmente, os dois braços trabalham juntos quando não há emergências. Mas cada um tem seus pilares centrais pré-determinados.
Falando mais sobre as ações dos voluntários, temos os já mencionados depósitos Du Bois.
Os Depósitos Du Bois são reservas de água não potável em pontos estratégicos, devidamente escolhidos, catalogados e organizados, que estão espalhados pela Serra do Mar e servem de auxílio para a extinção do início de foco de incêndio em montanha e também para abastecer as bombas costais usadas pelo CORPO DE BOMBEIROS quando o foco já está em proporções consideráveis. Estes depósitos homenageiam o Eng. Florestal Edson “ Du Bois” Struminski – (in memoriam). Du Bois (lê-se: Dibuá), era Doutor em Meio ambiente e Desenvolvimento, escalador desde 1979 e grande entusiasta de ações e debates que tinham a conservação ambiental como tema. Faleceu em Abril de 2017, vítima de um câncer na perna direita que o acompanhou por alguns anos, limitando seus movimentos. Ainda, Du Bois foi um dos escaladores que trouxeram técnicas para a nova geração de escaladores. Acostumados como o estilo paliteiro e vias ferratas, foram apresentados, também por ele, ao estilo de escalada em livre. Introduzindo à discussão sobre o conceito de que a Serra deveria ter reservas de água para o combate do início de focos de incêndio, ganhou uma homenagem à altura.
Nos mutirões há muitos trabalhos desenvolvidos em vários ramos, podendo ser contemplados uma grande variedade de habilidades individuais, ou seja, ninguém disposta e com força de vontade em ajudar fica de fora.
As atividades são inúmeras, tais como:
MANUTENÇÃO DE TRILHAS: criação de drenagens, aterros e passarelas de pedra; colocação de corrimãos e anteparos; instalação de cordas, correntes e degraus; transporte de materiais como tábuas, pedras garrafas pets e água; sinalização de trilhas e depósitos de pedras e água, cadastro e conscientização dos visitantes em áreas naturais; sinalização e adequações de lugares que oferecem riscos aos usuários; reuniões, levantamentos estatísticos, análise de dados e decisões sobre as ações futuras necessárias; doação de recursos e materiais.
PREVENÇÃO E COMBATE À INCÊNDIO: workshops e oficinas para fabricação de materiais necessários para combate; cursos, treinamentos e atualizações junto ao Corpo de Bombeiros; comunicação interna para detecção de possíveis situações em tempo real e comunicação em áreas de combate através de radioamadorismo via UHF e VHF, instalação de torres e instrumentos para comunicação via rádio; levantamentos, análises e decisões sobre transporte do corpo voluntário e materiais; levantamento de necessidades, angariação e aquisição de materiais; doação de recursos e materiais, transporte de materiais, comida, água e garrafas pets durante o combate; auxilio junto ao Corpo de Bombeiros no combate ao incêndio.
Portanto, é assim, com muito trabalho que conservamos este lugar tão especial.
A empresa Ana Wanke Turismo e Aventura também faz sua contrapartida, uma vez que também utilizamos os recursos naturais. Sempre que possível, estamos atuando diretamente para esse trabalho tão especial e importante que é o voluntariado para manutenção de trilhas.
Fotos Jurandyr Coelho.